segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

“Historias, aventuras e outros relatos”

Em 2008 lançámos o desafio e apareceram as primeiras historias do nosso 543. Em 2011 relembrámos e relançámos o desafio. Aguardamos pois as vossas aventuras e historias...
Enquanto e não, iniciamos a publicação das primeiras :

“Historias, aventuras e outros relatos”


Estávamos em Dezembro (de 1998), altura das actividades de Natal.

A minha equipa de clã (Pedro Álvares Cabral) decidiu fazer a sua caminhada em Lamego.
Era a primeira actividade de exterior que o nosso clã realizava. Aliás há vários anos que não eram feitas caminhadas no 543, dada a inexistência da IV secção.

Assim, 6ª-feira dia 18/12/98, ao fim do dia, com as mochilas às costas lá fomos (6 elementos) para os cacilheiros e depois até à estação de comboios de Santa Apolónia.
Pelas 23h estávamos no Porto e passada uma boa meia hora lá veio o comboio de ligação para o Peso da Régua. Foi mais de uma hora numa locomotiva/automotora a diesel, que está entre as máquinas mais barulhentas que eu vi e ouvi...
Cerca das 2h da manhã estávamos na Régua. Visto o primeiro autocarro de ligação para Lamego ser às 7:30 lá ficamos na estação (bem fria, por sinal). Por volta das 6h chegou uma patrulha da GNR, devido a distúrbios causados por indivíduo alcoolizado, nas imediações da estação.

Depois de muitas curvas, em poucos kms, lá chegámos a Lamego. Primeira missão, encontrar a casa de retiro (previamente contactada) onde nos iríamos acantonar. Conhecidos os aposentos (rapazes numa ponta do corredor, raparigas na outra – não queremos cá “misturas”!), era altura de descobrir a cidade. Ao anoitecer ainda estivemos à porta da sede dos escuteiros locais...só posso dizer que é a torre de menagem do castelo de Lamego!

No segundo dia visitamos, entre outros locais, o Museu, a Sé.
Chegados à Sé, cansados da subida (tantos degraus são desde o centro da cidade até lá!), tínhamos uma refeição volante – atum e pão. Já não me recordo como foi possível acontecer, mas uma das latas de atum furou ou iria ligeiramente aberta, só sei que na mochila onde esta ia se encontrava igualmente um telemóvel – o do Miguel Salvado. E posso dizer que há 10 anos os telemóveis não estavam tão vulgarizados como hoje em dia – ainda eram algo dispendiosos. E aquele pingava óleo de atum!! Continuou a trabalhar, mas segundo o próprio Miguel nunca perdeu aquela fragrância tão característica do óleo de atum!

Como já não havia grandes pontos de interesse a visitar e as condições eram algo precárias (mesmo a casa abrigo era extremamente fria), colocou-se a hipótese de alterar a actividade e, ao invés de permanecer em Lamego, irmos para Manteigas, onde um dos caminheiros tinha lá casa, com aquecimento!

Dado o ponto de situação, a opinião foi unânime: Fomos!
Consultado o mapa e  confirmados os transportes disponíveis, lá apanhamos o autocarro para Belmonte, por volta das 22h. Chegados a Belmonte (agora começa a parte marcante!), pelas 23h, tirámos umas latas de atum e uns pães para fora das mochilas e jantámos, mesmo ali na paragem.

Nesta altura demos por uma grande falha de planeamento: estávamos a quase 30km de Manteigas e só existiam duas carreiras por dia a fazer aquele trajecto! Uma de manhã (cerca das 8h) e outra ao fim do dia (20/21h)!! Resumindo, estávamos com as mochilas com um peso muito razoável (roupa de Inverno, comida, sacos-cama,...) mas sem tendas e a quase 30km do destino, em Dezembro, na serra da Estrela!
Solução encontrada – ir andando....

Ao fim de uma horita de caminho fizemos uma breve pausa e depois de recompor as costas retomámos a nossa maratona. Após alguns km’s foi altura para outra paragem – aconchegar o estômago, esticar as pernas e as costas - já fatigadas, pois ainda havia um longo caminho a percorrer... Depois de termos andado entre um quilómetro a quilómetro e meio demos pela falta de um saco de material onde ia uma bilha de gás, bico, etc. Recordávamos-nos de o termos levado até à última paragem, por isso só havia uma coisa a fazer – voltar atrás! Lá regressei com o Miguel Salvado. E eis que junto de um pilar onde estivemos parados se encontrava o “bendito” saco! Voltámos para junto dos nossos irmãos. Mochilas de novo às costas e continuação da saga....

Já passava das 3 horas da madrugada quando chegámos a Valhelhas, nome estranho que nunca esquecerei (já vão perceber porquê...). Por esta altura já estávamos com quase 4 horas andadas (naturalmente, bastante cansados) mas ainda a meio do caminho! Impunha-se uma decisão: parar e esperar pelo autocarro (que passaria pela aldeia por volta das 8h da manhã) ou continuar o longo e penoso caminho?! Decidimos parar, e por lá pernoitar – se é que posso usar este termo, dadas as circunstâncias...
Junto à estrada há uma capela e foi no seu átrio, nas traseiras desta que nos “acomodámos”. E eis que às 4h da madrugada veio um morador regar as plantas à varanda, roupão vestido e regador na mão! Explicámos-lhe que éramos escuteiros, que apenas ali íamos pernoitar e de manhã apanharíamos o autocarro para Manteigas – o nosso destino. E, lá voltou o sr. de roupão e regador na mão para o conforto que havia abandonado.
Estendemos as esteiras bem encostadas ao cantinho mais abrigado que encontrámos... (relembro – Dezembro, sem tendas, serra da Estrela!) e tentámos adormecer embalados pelo toque suave do sino da capela que tocava até as meias horas; e nós a menos de 10 metros dele...

Posso dizer que só não me lembro de ouvir uma das badaladas, todos os outros toques foram mais que escutados!
Pois passei aquelas horas a mexer as pernas devido ao frio e os joelhos pareciam ter agulhas espetadas! A somar à situação “climatérica” o meu saco-cama era digamos que, fraquinho!  Era um saco-cama de Verão!
Às 7h da manhã levantamo-nos. Todas as ervas à nossa volta estavam cobertas de geada e sobre os sacos-cama tínhamos finas camadas de gelo!

Pouco depois, abriu o café em frente da capela. Fomos de imediato beber e comer algo quente e aproveitar um abençoado aquecedor, que tivemos de partilhar com um sortudo gato, que aparentava ter passado a noite de modo bem mais confortável...
Por volta das 8:30 lá veio o bendito autocarro. E que bela é a paisagem vista do conforto de um veículo motorizado...

Chegados a Manteigas, um banho quente veio retemperar as nossas forças. Almoçámos, demos uma volta pela vila e aproveitámos para comprar alguns bens alimentares. Essa noite foi bem mais aprazível: jantar devidamente cozinhado, temperaturas razoáveis...

No dia seguinte fomos conhecer um pouco melhor a vila. Visitamos entre outros um viveiro piscícola e uma fabrica têxtil, onde pudemos comprar algumas lembranças.
Vimos o “Zé dos tombos”. Alcunha dada a um jipe Land Rover (um série 3 – já com umas décadas) dos Bombeiros Voluntários de Manteigas, alcunha esta que se deve à quantidade de capotamentos e respectivas marcas de “guerra” que esta já carismática viatura (para alguns), apresentava.

No regresso,...
Bom tudo foi bastante mais “calmo”. Autocarro até à estação da CP, seguido de comboio da Beira-Baixa até Santa Apolónia.



Escolhi esta actividade pois para mim foi das mais marcantes.
Por um lado divertimos-nos bastante (principalmente, no fim!), por outro aprendi a planear todas as actividades com bastante mais cuidado – os meus joelhos que o digam, mesmo passados 10 anos...


Assina:  Corvo Engenhoso

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